Resenhas científicas

MUDANÇAS CLIMÁTICAS: QUAL O FUTURO DO AÇAÍ E DO JABORANDI?


As mudanças climáticas têm sido tema central nas políticas públicas e econômicas de todo o mundo, pois são desenhados cenários de aumento da concentração atmosférica de dióxido de carbono (CO2), com elevação da temperatura do ar e a alteração nos totais e na distribuição das chuvas. Na Amazônia, além da preocupação com o bioma como um todo, surgem perguntas a respeito de espécies que são particularmente importantes para a economia regional. É o caso, por exemplo, do Jaborandi (Pilocarpus microphyllus) por ser uma fonte natural de alcalóides utilizados industrialmente na produção de medicamentos e, também, do Açai (Euterpe oleracea) devido a ampla utilização do fruto, especialmente no ramo da alimentação.

Diante disso, a estudante de doutorado Genilda Canuto Amaral realizou dois estudos com mudas das duas espécies em ambientes controlados, utilizando para isso casas de vegetação climatizadas e câmaras de topo aberto para injeção de dióxido de carbono na atmosfera. No primeiro estudo, avaliou-se o efeito de diferentes condições climáticas e níveis de água no substrato nos processos ecofisiológicos de mudas de jaborandi. No segundo estudo, avaliou-se o efeito das mudanças climáticas sobre a ecofisiologia de mudas de jaborandi e de açaí, a partir da simulação de três cenários climáticos: Amazônia atual, RCP4.5 e RCP 8.5.

No primeiro estudo, os resultados revelaram que os diferentes regimes de temperatura e água no solo afetaram o crescimento das mudas de jaborandi. Nos ambientes mais frios, houve redução no rendimento quântico, aumento da fluorescência mínima e da atividade enzimática, limitando os processos fisiológicos e reduzindo o crescimento, efeito causado também pelo estresse hídrico. Assim, os resultados permitiram concluir que as mudas conduzidas nos ambientes mais quentes e bem irrigadas apresentaram melhor crescimento e produção de massa seca. Este tipo de trabalho é um interessante indicador para projetos de exploração comercial da espécie, plantios, em outras regiões.

Nos cenários de mudanças climáticas, segundo estudo, a ecofisiologia das duas espécies foi afetada significativamente pelos climas do futuros. Para as duas espécies, os resultados mostraram que as condições dos cenários climáticos RCP 4.5 e RCP 8.5 limitaram os processos fisiológicos e que o estresse hídrico inibe a ecofisiologia das mudas independentemente do cenário. O efeito combinado do aumento da concentração de CO2 com a elevação da temperatura do ar e do déficit de pressão de vapor limitou o potencial hídrico foliar, os parâmetros de fluorescência e a atividade enzimática. Nas mudas de açaí, as trocas gasosas revelaram um efeito benéfico gerado pelo aumento da concentração de CO2 sobre a fotossíntese líquida nas folhas, mas a elevação da demanda atmosférica limitou o status hídrico e parâmetros de fluorescência, o que resultou em menor crescimento nos cenários futuros. O estudo, apesar de desenvolvido em condições controladas, sinaliza impactos negativos sobre duas importantes espécies amazônicas.

Maiores detalhes podem ser encontrados na tese completa da estudante em nosso site e nos artigos científicos:  Trees        Theoretical A. Climatology       New Forests