Resenhas científicas

SUCESSIVOS EPISÓDIOS DE DEFICIÊNCIA HÍDRICA RESULTAM EM ACLIMATAÇÃO DA MAQUINÁRIA FOTOSSINTÉTICA?

Com avanço das fronteiras da silvicultura comercial para regiões consideradas não tradicionais, com menores índices pluviométricos e elevadas taxas de evapotranspiração potencial, há uma demanda por estudos ecofisiológicos de espécies florestais sob deficiência hídrica. Para testar a hipótese de que mudas de seringueira submetidas a sucessivos ciclos prévios de seca desenvolvem capacidade de aclimatar a maquinaria fotossintética, a estudante de mestrado Jessily Medeiros Quaresma avaliou a ecofisiologia do clone FX 3864 em condição de limitação de água no solo, depois de passarem anteriormente por ciclos de deficiência hídrica.

Os resultados apontam que plantas do clone de seringueira FX 3864 quando submetidas previamente a mais de um ciclo de deficiência hídrica conseguem manter o status hídrico na célula por mais tempo e desenvolvem habilidade da maquinaria fotossintética em contornar, de forma efetiva, a restrição hídrica que venha a ocorrer novamente, alcançando, dessa forma, uma condição de aclimatação. Desse modo, do ponto de vista prático, a submissão de mudas de seringueira, na fase inicial de desenvolvimento, a períodos controlados de seca moderada pode contribuir para melhorar a rustificação em viveiros e, assim, aumentar sua capacidade de se suportar posteriores eventos de seca mais rapidamente, diminuindo a taxa de mortalidade de plantas em campo sem que haja perdas excessivas de produção.

O diferencial do estudo desenvolvido pela mestranda Jessily é o uso de indicadores ecofisilógicos para demostrar a aclimação das mudas. Os resultados encontrados sugerem que os sucessivos ciclos de deficiência hídrica tenham gerado "memória do estresse" nas plantas, desencadeando alterações nas respostas fisiológicas e, possivelmente, bioquímica e metabólica, que resultaram na aclimatação. Essa "memória do estresse" favoreceu o balanço de carbono, com a manutenção da turgescência foliar e melhoria da capacidade das plantas em absorver água do substrato mesmo em baixo nível de disponibilidade de água. Estudos futuros ainda são necessários para estabelecer os mecanismos moleculares pelo quais as plantas armazenam informações sobre a exposição ao estresse causado por variáveis bióticas e abióticas.

Maiores detalhes podem ser encontrados na dissertação completa da estudante em nosso site e no artigo: Scientia Forestalis